Amigo do esporte,
não sei se por ser um saudosista convicto, mas às vezes não consigo assimilar certas mudanças. Em dois anos, de 1938 a 1940, foi erguido o estádio mais charmoso do mundo. Iniciado na gestão do Prefeito Fábio da Silva Prado e concluído na gestão de Prestes Maia, o Estádio Paulo Machado de Carvalho foi inaugurado em 27 de abril de 1940 com a vitória do então Palestra Itália sobre o Coritiba por 6x2.
Localizado num dos mais nobres bairros de São Paulo, o Pacaembu, logo adotou o nome do bairro tornando-se conhecido mundialmente. Eu era frequentador assíduo do estádio. Desde quando ainda existia a maravilhosa "Concha Acústica" ladeada pelos placares. Quanta saudade!
Todos os times de São Paulo jogaram nele. Os grandes eram frequentadores contumazes dessa maravilha. O Palmeiras, apesar de ter seu estádio na época, o Parque Antártica (que tinha apelido de jardim suspenso por ter um fosso ao redor), lindo por sinal, mandou muitos jogos no "Paca". O São Paulo, antes e até depois de construir o Morumbi, também mandava jogos lá. O Santos de Pelé, jogava mais no Pacaembu do que na Vila. Libertadores, Campeonato Paulista e Rio-São Paulo, fosse qual fosse o campeonato, o Peixe gostava de jogar no Paulo Machado de Carvalho. Mas até pelo acanhado estádio que tinha (Estádio Alfredo Schürig ou Parque São Jorge), o Corinthians adotou o Pacaembu como sua casa. E de um modo mais afetuoso, de seu lar.
Qualquer dia que tivesse jogo eu estava presente. Dia comum ou final de semana. Desde muito novo curtia cada momento, cada cena daquela maravilha de estádio. E não ia apenas para ver meu time. Cansei de ver Santos x Palmeiras, Palmeiras x São Paulo, São Paulo x Santos, a Lusa, enfim grandes jogos. Até Libertadores com o Santos.
Abrigou jogos da Copa de 50 e dos jogos Pan-Americanos de 63 além de outros grandiosos eventos. Em 27 de outubro de 70, era inaugurado o "Tobogã", uma horrível estrutura que parecia um tanque de lavar roupas, para que o Pacaembu tivesse uma capacidade maior de público.
Derrubaram assim, parte da história maravilhosa desse estádio com a demolição da "Concha Acústica". Morria ali um pouco do romantismo. Daquela voz que saudava o público que vinha chegando. Que continuou, mas não com o mesmo brilho, com o mesmo "sabor". Ah, Pacaembu! Quanta saudade. Quantos títulos ganhei e perdi, quantas lagrimas de tristeza e felicidade derramei em suas arquibancadas. Quantas cervejas com amigos, quantos gritos, quantas vaias, quantos aplausos. Fogos, bandeiras, papéis picados, batuques, nossa que nostalgia!
E agora, meu estádio preferido, derrubaram também o " Tobogã " em nome da modernidade e da ganância. E você, Pacaembu, que vivia lotado, você que foi o estádio mais lindo que conheci, que tinha uma localização privilegiada, o mais aconchegante, o mais charmoso, o mais elegante, agora não é nem sombra do que foi.
Perdeu a identidade, perdeu a beleza. Lembro até da "Estátua de Davi" onde assisti muitos jogos bem ao lado. Bem, agora tudo é passado. Mas saiba, "Paulo Machado de Carvalho", que para mim você é eterno. E que jamais vou esquecer do primeiro dia, do nosso primeiro encontro quando me apaixonei. Amor a primeira vista. O amor que tenho por você vai continuar sempre comigo. E ainda que não seja mais como antes, ainda que tenham te maltratado tanto, sei que não foi por sua culpa. Te amo, Pacaembu! Até mais!
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