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  • Foto do escritorJota Jorge

Música de hoje e sempre - "Ouro de tolo", Raul Seixas

"Ouro de Tolo" foi a composição que abriu as portas de Raul Seixas para o mundo. Foi com essa música que o baiano Raul Santos Seixas ganhou notoriedade. Raul Seixas é considerado o "pai do rock brasileiro". É um dos precursores desse ritmo no país.

Criativo, excêntrico, culto, um gênio. Mesmo depois de sua morte, seus discos continuam sendo procurados e disputados pelos fãs. Composições inesquecíveis como Metamorfose Ambulante, Gita, Mosca na Sopa, Há Dez Mil Anos Atrás, Maluco Beleza (aliás, esse era um de seus apelidos), Medo da Chuva, Sociedade Alternativa e tantas outras que o tornaram uma celebridade de nossa música.

"Ouro de Tolo" foi composta em 1973 e critica veementemente os desejos de consumo da década de 70. A letra é um tapa na cara da classe média brasileira com seus sonhos de consumo. O título tem como inspiração, uma comparação com os alquimistas da Idade Média que prometiam transformar chumbo em ouro.

Letra sensacional e uma melodia simples e graciosa transformaram essa canção num sucesso estrondoso e revelaram Raul Seixas para nossa alegria. Sem dúvida, "Ouro de Tolo" é "Música de Hoje e Sempre"!

Letra

Eu devia estar contente porque eu tenho um emprego Sou o dito cidadão respeitável E ganho quatro mil cruzeiros por mês Eu devia agradecer ao Senhor Por ter tido sucesso na vida como artista Eu devia estar feliz Porque consegui comprar um Corcel 73

Eu devia estar alegre e satisfeito Por morar em Ipanema Depois de ter passado fome por dois anos Aqui na cidade maravilhosa Ah eu devia estar sorrindo e orgulhoso Por ter finalmente vencido na vida Mas eu acho isso uma grande piada E um tanto quanto perigosa

Eu devia estar contente Por ter conseguido tudo o que eu quis Mas confesso, abestalhado Que eu estou decepcionado Por que foi tão fácil conseguir E agora eu me pergunto "e daí?" Eu tenho uma porção de coisas grandes pra conquistar E eu não posso ficar aí parado

Eu devia estar feliz pelo Senhor Ter me concedido o domingo Pra ir com a família no jardim zoológico dar pipocas aos macacos Ah, mas que sujeito chato sou eu que não acha nada engraçado Macaco, praia, carro, jornal, tobogã, eu acho tudo isso um saco

É você olhar no espelho E se sentir um grandessíssimo idiota Saber que é humano, ridículo, limitado E que só usa 10% de sua cabeça animal E você ainda acredita que é um doutor, padre ou policial Que está contribuindo com sua parte Para nosso belo quadro social

Eu é que não me sento no trono de um apartamento Com a boca escancarada, cheia de dentes Esperando a morte chegar Porque longe das cercas Embandeiradas que separam quintais No cume calmo do meu olho que vê Assenta a sombra sonora de um disco voador

ah eu é que não me sento no trono de um apartamento Com a boca escancarada, cheia de dentes Esperando a morte chegar Porque longe das cercas Embandeiradas que separam quintais No cume calmo do meu olho que vê Assenta a sombra sonora de um disco voador

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