O "Conheça o Craque" de hoje traz uma personalidade do futebol das mais polêmicas. Considerado um dos grandes árbitros do futebol brasileiro de todos os tempos, tinha como marca a austeridade, sendo enérgico ao extremo e disciplinador.
Dulcídio Wanderley Boschilia teve uma carreira marcada por grandes polêmicas e excepcionais arbitragens. Nascido em São Paulo em 1938, Dulcídio era goleiro de várzea. E bom goleiro. Torcedor confesso do São Paulo, quase foi levado ao seu time de coração por José Poy, então treinador do juvenil do Tricolor. Só não o levou porque já tinha 25 anos. Apesar de assumir sua preferência, sempre declarou que apitando não via camisa.
Começou a carreira de árbitro em 1964. depois de apitar jogos de várzea. Por ser policial, apitava jogos também na Casa de Detenção, onde tinha o respeito dos detentos, inclusive aqueles detidos por ele. Em 1966 já era escalado pela Federação Paulista para apitar jogos da antiga segunda divisão. Nesse mesmo ano, apitou um jogo da terceira divisão entre Penapolense e São Bento de Marília. Pressionado pelos jogadores, torcedores e dirigentes do Penapolense para que arrumasse um pênalti par garantir a vitória, não se intimidou e não assinalou o tal pênalti. Como era policial, andava com um 38 sempre que ia apitar. E nesse dia, deu 3 tiros para o alto para poder ir embora.
Em 1979 agrediu um torcedor em Bauru. Embora tenha negado a agressão, teve que ir a delegacia prestar depoimento. Em 1970 o diretor do Departamento de Árbitros da FPF revelou que quando o jogo era duro escalava Dulcídio e dormia tranquilo. Usava laquê nos cabelos e justificava dizendo que o cabelo caia no rosto e atrapalhava a visão.
Em 1983 aceitou um cheque de trezentos mil cruzeiros para usar como prova de suborno. Porém, não só sua denúncia deu em nada como ele quase foi processado por corrupção. A partida mais polêmica de sua carreira foi sem dúvida o terceiro jogo da decisão do Paulistão de 1977. Aos treze minutos do primeiro tempo expulsou Ruy Rey e até hoje é suspeito de ter sido subornado. Dulcídio nega veementemente essa hipótese e afirmou que expulsou o jogador depois de adverti-lo após Ruy Rey ter reclamado demais. Disse a ele: Não agita que te ponho pra fora. Segundo ele, Ruy Rey continuou reclamando e o mandou tomar no .... "Se eu não o expulsasse ele tomaria conta do jogo, e no campo mando eu."
Outra polêmica em que se envolveu foi uma suposta agressão ao jogador Polozzi , fato que foi negado pelo jogador ao afirmar que não fora Dulcídio quem o tinha agredido. Mesmo assim, ficou suspenso por 120 dias. Mesmo tendo perdido sua esposa num acidente em que dirigia o veículo, dezoito dias após apitou a final do Paulista de 1987 entre São Paulo e Corinthians, tendo sido vencida pelo Tricolor.
Como policial, passou pelo DOI-CODI entre 1970 e 1972 e afirma que nunca encostou a mão em ninguém. Fez parte da ROTA e se tornou investigador da PF. Apitou 240 jogos do Campeonato Brasileiro no período entre 1971 e 1989 sendo o sétimo árbitro que mais apitou jogos dessa competição.
Foi um dos primeiros árbitros a ingressar no quadro de aspirantes da FIFA. Em 1974 indicado pela FPF. Porém, no dia seguinte a indicação, criticou o uso do cartão amarelo e como consequência foi retirado da lista de aspirantes pouco depois. Jogadores como Pedro Rocha, Ademir da Guia, Biro-Biro, Clodoaldo e outros consideraram Dulcídio como um dos grandes árbitros da história.
Em 1989 criou polêmica com o Sindicato dos Árbitros de São Paulo ao declarar numa revista que recomeçaria a carreira bajulando e arrumando padrinhos como outros árbitros fizeram, a custa de resultados arranjados. Dulcídio morreu em 1998 aos 60 anos vítima de um câncer. Sem dúvida foi um dos maiores árbitros do Brasil e merece estar na galeria do "Conheça o Craque" . Valeu, Dulcídio!
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